Gratidão. É o que vejo em seu olhar. Eu não preciso fazer nada. Nem sorrir, nem brincar, nem tentar chamar sua atenção. Basta ela me olhar que um sorriso desbota, com toda sua boca vazia à preencher meu coração. Rubi era tão faceira, que de tão faceira, só precisava existir para que eu dissesse:

Eu te perdoo, filha, por ter me engordado e deixado marcas em meu corpo. Eu te perdoo, pelas dores do parto e suas circunstâncias emergenciais. Eu te perdoo pelas noites sem dormir. Eu te perdoo pela agonia que me deixava ao chorar. Eu te perdoo pelo medo de te perder de repente. Eu te perdoo pela vodka que não podia mais beber. Eu te perdoo pelos cabelos bagunçados e os olhos fundos e a coluna torta. Eu te perdoo pelo mau humor com os outros só por eu estar cansada. Eu te perdoo por ter passado fome, pelos banhos de gato, por quase ter feito xixi na roupa e mal poder respirar por um minuto sem você me chamar desesperada. Eu te perdoo por ocupar o tempo que seu pai tinha comigo. Eu te perdoo por meu perfume ser leite azedo. Eu te perdoo por golfar na minha roupa nova bem na hora de sair de casa. Eu te perdoo por não ter o mesmo ânimo de encontrar com minhas amigas. Eu te perdoo por ter vergonha dos meus seios. Eu te perdoo pelo coco que vazava da fralda e até pela certa vez que você passou a mão e esfregou no meu rosto. Eu te perdoo por arrancar meus cabelos. Eu te perdoo por enfiar o dedo no meu olho. Eu te perdoo pelos tapas inconsciente enquanto você dormia e só queria confirmar que eu ainda estava ali. Eu te perdoo pelos minutos, horas, séculos, em pé, enquanto você brigava com seu sono - e eu com o meu. Eu te perdoo, filha, porque nada nesse mundo vale mais do que a gratidão do teu olhar.

E era assim, me colocando em exaustão, fazendo eu pensar estar no limite quando conseguia ser capaz de aguentar mais a cada dia, que eu percebia que com aquele olhar ela era capaz de ganhar o mundo.

Seja feliz, Rubi. Sempre.
Com amor mamãe.


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